quinta-feira, 21 de agosto de 2014

XXX - Amor Obscuro

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– Adeus, Nicholas. - Sibila.
– Selena. - Sussurro e assim as portas se fecham, caio de joelhos olhando aquelas portas de metal frio levando consigo a única que conseguiu me possuir de uma maneira que nunca pensei ser possível.
Levo minha mão no peito para tentar acalmar minha respiração pesada, devido à uma súbita falta de ar que me atinge em cheio. Meu lábios trêmulos denunciam o frio que passa pelo meu corpo. Levanto cambaleante e volto para meu apartamento. O apartamento que se encontra totalmente vazio e sem vida, sem meu anjo aqui. Que merda que você foi fazer, Jonas ?! Olho a sala agora escura em seu silêncio ensurdecedor e vejo Gail parada em uma fresta de luz, que entra pela janela. Consigo ver a piedade exalando de seus olhos.
– Sr Jonas, deseja algo ? - Sinto a compaixão em seu tom de voz.
Se fosse em outros tempos eu iria me aborrecer muito por me olhar dessa forma, mas hoje não estou importando com nada mais. Sinto uma dor tão grande em minha alma negra ao ponto de não ter mais vontade de viver. Meu coração, que nem sabia que tinha um, está destroçado. É Jonas, você sempre se gabou achando que não tinha um coração e quando descobre que tem um, ele está em carne viva. Que bela maneira de descobrir algo. Mas é bem feito, quem mandou ser um filha da puta com a mulher de sua vida. Sim, porque é isso que Selena é!
– Sr Jonas ? - A voz melosa de Gail, me tira de meus devaneios.
– Não Gail, pode voltar a dormir. - Sussurro automaticamente e começo a andar em passos lentos em direção a escada.
Subo para o segundo andar e volto para o quarto onde minha Selena passou seus últimos minutos. Assim que entro, sinto as lágrimas invadirem meus olhos e seguro-as para que não caia. Desde que cheguei na casa dos Jonas, me proibi terminantemente de chorar e desde então nunca chorei. Não será agora que irei chorar! Tento me manter firme nesse pensamento, mas sou vencido pela tristeza e assim uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Percorro meu olhar pelo recinto, mas algo me chama atenção rapidamente, fazendo-me parar os olhos na caixa prateada em cima da poltrona que está ao lado cama. O presente que Selena me deu antes de irmos para a festa. Aproximo lentamente e pego a caixa nas mãos. Respiro fundo e abro a caixa lentamente. Assim que abro, me deparo com outra caixinha dentro, sendo essa feita de vimê. Abro e sorrio com as lembranças que meu presente me trazem. Tiro de dentro da caixinha uma gravata de seda vermelha, uma garrafa de rum Mount Gay e uma miniatura de vidro, onde se vê a cidade onde ficamos em Barbados. No fundo da caixa encontro dois bilhetes em papel pardo. Abro o primeiro e começo a ler:

''Caro senhor Jonas.
Sei que adora ser chamado dessa maneira,
pois vejo seus olhos brilharem ao ouvir essas palavras serem pronunciadas.
Esse bilhete é para explicar o presente.
Não sabia o que dar para alguém que já tem tudo.
Espero que goste do presente.
A gravata é para completar sua coleção,
a cor vermelha simboliza sua sala de jogos e o rum...
Ah, o rum simboliza momentos mágicos que vivi com você.
Sua Srta Gomez.''
Sorrio e pego o segundo bilhete:
''Feliz Aniversário, garotão!
Sim, meu garotão por cada sorriso de garoto que você me deu em nossa primeira vez.
Toda vez que vejo esse seu sorriso, consigo ver a linda pessoa que você é por dentro, que você se recusa a deixar o mundo ver.
Espero que algum dia você perceba a imensidão de seu sorriso
e do coração que possui.
Obrigada por ser minha ''primeira vez'' e por eu ser seu primeiro baunilha.
Beijos, Selena! ''
Não controlo mais as lágrimas ao acabar de ler os bilhetes e fungo bruscamente. Aperto os bilhetes contra o peito e fecho meus olhos, deixando-me levar pela dor que cresce cada vez mais em mim. Minha baunilha, minha doce e eterna baunilha.
Abro meus olhos e passo a mão na gravata de seda. Oh, baby! Me perdoe por ter feito o que fiz ? Por ser que sou ?! Peço numa prece silenciosa. Passo meus olhos pelo quarto que ela decorou e sorrio ao lembrar de sua expressão de susto quando percebeu minha presença, enquanto terminava de pintar o quarto. Paro meus olhos na colagem de fotos que há na parede da cabeceira da cama. Me ajoelho na cama e aproximo-me das fotos. São fotos de nossa viagem. Há fotos com o irritante de seu amigo, com Demi e Joseph. Mas as que me chamam a atenção, são as nossas fotos tiradas em momentos íntimos. A primeira é a minha foto, na qual me pegou desprevenido e a segunda foto ela está puxando meus lábios com seus dentes famintos.
Passo a mão por cima das fotos e de repente um sentimento de culpa e ódio me atinge em cheio. Saio de cima da cama e vou direto para minha sala de jogos. Assim que entro, meu ódio triplica e num ato de fúria, começo a destruir o lugar onde perdi meu anjo.
– Jonas, seu merda! - Grito ao jogar o banco que está perto da porta na parede.
Com toda minha força, derrubo a mesa que fica no lado direito do quarto, e assim ela fica de pé para cima. Passo a mão pelos cintos, chicotes e tudo mais que vejo na estante de madeira, arrancando-os e atirando-os pelo chão do quarto. Saio do quarto e desço rapidamente as escadas, sigo para a cozinha á procura de álcool e fósforo pela casa. Assim que encontro, pego uma faca na cozinha e volto para a sala de jogos. Ateio fogo nos objetos que joguei no chão e observo-os queimar minuciosamente. Depois de ver a ultima sombra de fumaça, saindo do ninho que fiz, sigo para as cômodas e começo a arrancar as gavetas bruscamente e jogá-las pelo quarto.
Em seguida, vou até a cama e rasgo os lençóis com toda a força que encontro em mim. Choro com as ultimas lembranças que tive nessa cama ao violentar Selena, pois foi isso que eu fiz. Eu violentei a mulher que... A mulher que ... Começo a ofegar ao sentir-me obrigado a aceitar o fato de que estou completamente apaixonado por ela. Selena é a mulher que amo! Tão lutei para ignorar esse sentimento, que me acerca a tempos, até que magoei a única pessoa que fez meu coração bater. Que viu realmente quem sou, viu minha alma negra ao olhar-me nos olhos e mesmo assim não fugiu. Mas você deu um jeito dela sumir de sua vida, né Jonas!
– Porque eu tenho que ser um fodido? Porque tinha que corromper um anjo? Porque eu não consegui amar minha garota como ela realmente merece? Porque ? Porquê ? - Grito com raiva e começo a rasgar as fronhas dos travesseiros. Em seguida, pego a faca que coloquei no bolso da calça e começo a rasgar o colchão, quando mãos fortes me impedem de continuar meu trabalho, me arrastando para longe da cama. – Me solta! - Grito me debatendo, e assim sou largado no chão.
Tento acalmar minha respiração ofegante e levanto meu olhar, encontrando com o olhar assustado de Gail na porta. Olho para Taylor, que está me olhando atentamente.
– Sr Jonas, venha. Vamos cuidar desse ferimento. - Gail diz com a voz vacilante.
Olho para Taylor assustado e assim percorro meu corpo com meus olhos, à procura de algum indício de machucado. Me assusto mais ao notar minha mão sangrando. Estranho, pois não sinto dor.
– Dê-me aqui essa faca ? - Taylor pede cautelosamente.
Olho cético para ele por um instante, mas logo lhe entrego o objeto, que ele guarda no bolso rapidamente. Com cautela para não me tocar, ele me ajuda a se erguer do chão e me conduz para fora da sala. Começa a fazer o caminho para a escada, quando me recuso, parando no meio do corredor.
– Vou para o quarto de Selena. - Digo, olhando para o nada, perdido em pensamentos com meu anjo.
Taylor então me guia até o quarto que era de Selena e me ajuda a sentar na cama. Permaneço imóvel, sem vontade para nada. Acho que nesse momento se alguém me tocasse eu nem reagiria, tamanha é minha falta de vontade de viver. Não quero viver sem minha doce Selly. Preciso dela em minha vida. E eu não a ver mais, nunca mais ? E se não restar mais nada, exceto uma memória como um eco distante ? Não, não, me recuso a aceitar que acabou assim, tenho que correr atrás dela, reivindicá-la pra mim. Mas e se for tarde demais ? Se eu tiver perdido minha chance ? Se ela quiser seguir com sua vida ? Como vou viver sem ver aquele par de olhos azuis brilhantes e puros sequer um dia ?
– Pronto, sr Jonas. - a voz de Gail tira-me de meu sofrimento interno.
Olho para ela confuso, mas logo vejo que está se referindo ao curativo em minha mão. Olho para minha mão, incrédulo de sua rapidez e volto meu olhar para ela, que me oferece um sorriso complacente.
– Obrigado, Gail. - E é só isso que consigo dizer.
Ela assente e se encaminha para fora do quarto. Taylor a acompanha, mas logo chamo-o e ele para, se virando para mim.
– Sim, senhor Jonas ? - Pergunta.
– Selly... Como.... - Tento formular um pergunta, mas está difícil. Pigarreio e suspiro. – Ela falou algo ? Como ela estava ? - Pergunto aflito e Taylor se enrijece. Ele me olha por um logo tempo, como se estivesse incomodado com algo. – Fale, Taylor ? - Peço mais aflito.
– Senhor Jonas.. - Ele para e suspira. – Ela não estava nada bem. Chorou o caminho todo e.. - Ele para e me fita com a testa franzida.
– Diga. - Grito.
– Ela pediu para que cuidasse de você. - Taylor responde e sinto algo em meu coração ferido se quebrar mais. Ela ainda pensa em mim! Depois de tudo o que eu fiz e ela ainda pensa em mim. Ela é um anjo mesmo e eu não a mereço. – Mas alguma coisa senhor ? - Pergunta incomodado e nego com a cabeça.
Assim ele sai e fecha a porta atrás de si. Olho para o quarto a minha volta e reparo sua câmera no canto do quarto. Ela deve ter esquecido. Levanto e pego sua câmera do chão. Tiro o resto de roupa que me cobre e deito nu na cama, enrolando-me nos edredons com o cheiro de minha amada. Seu cheiro divino de baunilha. Ligo sua câmera e começo a rever as fotos de nossa viagem. Passo uma a uma até que as fotos que tirei dela fazendo caras e bocas aparecem. Estão lindas. Fico olhando por horas até minhas pálpebras pesarem e eu adormecer.

***
Acordo suado e ofegante do pesadelo que tive com Selly. Olho para os cantos e reparo que estou no quarto de Selly. Acalmo minha respiração e deito novamente na cama. Merda, merda, merda! Já estou acostumado a ter pesadelos sem a presença dela, mas tinha que ser justo com ela? Geralmente é com o cafetão e prostituta de meu passado. Dessa vez foi diferente. Foi com ela. Minha Selly e aquele imbecil de seu vizinho, juntos. Se abraçando, se beijando. Trinco meus dentes ao imaginá-la sendo reivindicada por outro que não seja eu.
Olho para a janela vejo a grande Seattle acordada e atormentada com suas nuvens escuras. Parece que hoje será um dia de tempestades. Ouço um barulho vindo do corredor e olho imediatamente para a porta. Reparo no adesivo que colado na parede e analiso o desenho, atentamente. Um casalzinho se beijando, sorrio com o romantismo de Selena, mas logo meu sorriso morre. Eu sempre soube que ela é dada à flores e corações e mesmo assim fiz de tudo para fodê-la loucamente naquela merda de sala. Definitivamente não sou o que ela merece.
Tive essa percepção ao vê-la cheirando as flores que aquele merda deu à ela. Aquilo me feriu de uma tal maneira, que fiquei cego de raiva. Quis machucá-la da mesma maneira, que aquilo me machucou, naquele quarto. A tratei com uma frieza descomunal, que nem sabia que tinha em mim. Mas depois ao ficar sozinho naquela sala, me sentir o pior dos merdas por tratá-la daquela maneira. E cada vez mais me convencia de que o certo era deixá-la ir embora, viver a vida que merece. A vida que aquele filho da puta pode dar à ela e não eu. Mas cada vez o medo de perdê-la me atormentava, e aí eu a tratava do jeito que merece: sendo apresentada a todos como minhas namorada. Pois cada vez que a chamei como minha namorada, eu realmente sentia que ela era uma e não uma submissa.
Mas aí tinha que aparecer Elena, e pior ainda com Leila, para fazer meus instintos selvagens. Queria que esse aniversário fosse o melhor de todos por ter Selly comigo, mas não como sempre algo tem que estragar. Selly ficou irritada, como de costume, com a presença de Leila e Elena. Me senti acuado e quis extravasar minha raiva de alguma maneira, sem ter que tocar a palma de minha mão nela. Optei por ter uma trepada sacana com ela e nem percebi algum gesto vindo dela. Só de lembrar de Selly correndo de mim depois, me dá um aperto no peito. Como eu pude ser tão insensível ao fazê-la reviver seu passado de merda ? Nunca irei me perdoar por isso.
E vê-la confessar seu passado me doeu mais ainda. A cada palavra que ela pronunciava, me doía e ao mesmo tempo me fez ter ódio mortal desse filho da puta do Mark. Se um dia encontrá-lo irei acabar com a vida dele.
– Senhor Jonas ? - A voz de Gail me tira dos devaneios, fazendo-me olhar para porta.
– Sim, Gail ?! - Franzo a testa ao vê-la entrar com uma bandeja de café da manhã.
– Trouxe seu café, senhor. - Olho-a confuso. – Como o senhor não se levantou, eu pensei em trazê-lo. - Diz, com um sorriso de desculpas nos lábios.
– Obrigado, mas o que você está fazendo aqui ? Hoje é domingo, seu dia de folga! - Digo confuso com sua presença. – A dispensei ontem depois do café da manhã.
– Sim, eu lembro senhor. Mas como não fui para Portland visitar minha irmã, Jason me chamou e contou do ocorrido. - Diz, sem graça.
– Ok. Mas não estou com fome. - Resmungo. Até meu apetite Selly levou com ela.
– Agora o senhor precisa se alimentar. - Ela diz com seu sorriso terno, ao colocar a bandeja em meu colo. – Só um pouco, Nicholas. - Me espanto pela maneira que se refere à mim.
Em todos esse anos que trabalha comigo, ela e Taylor nunca me chamaram pelo nome! Continuo a olhar para ela, mas desisto de lutar contra seu enorme sorriso. Me ajeito para dar mais comodidade e pela primeira vez em doze horas, abro um sorriso sincero para ela. Começo a comer automaticamente, sob a supervisão de Gail e sinto-me como um garoto que precisa ser observado para que não faça besteiras. Mas até que me sinto bem com seus cuidados. Definitivamente Gail tem uma paciência enorme comigo. Me faz até lembrar de minha mãe, Grace. Elas duas são muito bondosas comigo, sem contar com ela.. Selly. Ela sim foi muito paciente comigo.
– O senhor deseja mais alguma coisa? - A voz de Gail interrompe meus devaneios e só assim vejo que já acabei de comer.
– Não, obrigado Gail. - Digo atônito e assim ela pega a bandeja de meu colo. – Só chame Taylor, por favor. - Digo e ela assente de cabeça.
Sigo seu percurso até a porta com meu olhar e me aconchego mais na cama assim que ela fecha a porta atrás de si. Volto meu olhar para a janela e novamente sou atingido pelos pensamentos insanos. Ah, baby! Como será que você está ? Será que algum dia verei sua pele nua colada ao meu corpo ? Será que verei seus belos e doces olhos azuis despertarem em uma manhã ensolarada ? Bufo fecho meus olhos, na tentativa de apagar o ocorrido de minha mente, mas é inútil. Sempre serei atormentado pelo que fiz a ela. Uma batida na porta me faz voltar para o presente e logo Taylor se materializa, adentrando o quarto.
– Taylor, quero que faça grandes retratos com essas fotos para colocar na parede o mais rápido possível. - Entrego-lhe a câmera de Selly que deixei de lado, na cama.
– Sim, senhor. Mas alguma coisa? - Pergunta em modo profissional.
– Quero que vigie Selena sem que ela perceba e é só. Está dispensado. - Digo, com o olhar perdido na janela.
– O senhor não irá levantar da cama ? - Pergunta e me surpreendo por sua indiscrição.
– Não. - Rosno.
Ele me olha por um momento, mas logo assente de cabeça e sai do quarto. Olho pasmo para a porta. Sairei da cama quando eu quiser! Agora deram para se meter em minha vida. Bufo e me enrosco nos lençóis novamente, me acalmando ao sentir o cheiro de Selly neles. Oh, minha baunilha! Pego o travesseiro e me abraço a ele, sentido o perfume dela mais forte e acabo adormecendo.
***
Desperto suado de meu breve sono e vejo que são 13hrs00min da tarde. Merda! Será que esses pesadelos com Selly nunca mais vão me deixar em paz. Cambaleio até o banheiro e entro no box de roupa e tudo. Apoio o braço na parede e deixo a agua gelada escorrer pelo meu corpo. Porque a merda daquele Julian junto com Selly tem que me assombrar ? Que inferno. Já não basta o que estou vivendo com minha culpa, agora vem ele para acabar de vez comigo ? Conto até dez mentalmente na tentativa de controlar minha raiva para não fazer uma besteira novamente, mas falho miseravelmente. Num ato impensado, derrubo todos os frascos de shampoo, condicionador e sabonete no chão, ao bater no suporte e assim todos os frascos de vidros se quebram. Vejo o sangue escorrer de minha mão, devido ao corte que tive ontem a noite. Merda! Saio do banheiro com a roupa ensopada e desço para a cozinha a procura de Gail.
– Gail, onde esta a caixa de primeiros socorros ? - Pergunto assim que chego na cozinha.
Ela se vira para mim e se assusta ao ver meu estado.
– O que houve? - Pergunta preocupada, vindo até a mim. – Deixa que eu cuido disso. - Ela diz ao analisar minha mão. – Mas agora o senhor precisa se trocar, se não irá pegar um resfriado. - Diz e assim eu o faço.
Depois de trocar de roupa, volto para a cozinha e sento no banco à espera de Gail. Ela refaz meu curativo pacientemente, mas é visível o medo em seus olhos. Medo de que ? De mim ?
– Não precisa ter medo de mim, não irei machucá-la, Gail. - Digo com a testa franzida.
– Eu sei, Nicholas. - Ela levanta os olhos até o meu e vejo sinceridade em seus olhos.
Ela volta para meu curativo e logo somos interrompidos pelo barulho do elevador se abrindo. Quem será? Espero que não seja ninguém de minha família. Nãos estou com saco para recebê-los. Gail acaba com meu curativo e assim sigo para a sala para ver quem é. Trinco meus dentes e cerro meus pulsos ao ver Elena parada no meio de minha sala.
– Como você entrou sem ser anunciada ? - Rosno para ela, tentando ao máximo me controlar.
– Hey meu garoto, como você está? - Ela abre seu sorriso cínico.
– Responda, Elena! - Grito e ela levanta as sobrancelhas.
– Calminha. - Ela se encaminha até a mim e leva as duas mãos em meu rosto. – Vejo que meu garoto está estressado. - Diz com um olhar em reprovação.
Levo minhas mãos até as suas e tiro-as de meu rosto.
– Não sou seu garoto, Elena! - Rosno. – Eu não sei o que você veio fazer aqui, mas é melhor você ir embora, para o seu próprio bem - Ameaço e ela ri.
– Nossa, que nervosinho você, Nicholas. Está precisando de uma distração. Sua queridinha não está lhe satisfazendo mais não ? - Pergunta com deboche e é o fim pra mim.
Num impulso, agarro Elena pelos braços e sem me importar com a dor em meu ferimento, aperto-os até sentir meus dedos doerem.
– Nunca.Mais.Fale.De.Selena. - Rosno. – Ouviu bem? Se eu ouvi o nome de Anstasia na sua boca, juro que você irá se arrepender. - Ameaço e ela arregala os olhos.
– Nicholas, está me machucando. - Reclama. Sorrio diabolicamente para ela, que se espanta ainda mais.
– Não é você que gosta de dor ? - Pergunto friamente. – Não é você que gosta de machucar as pessoas ? - Aperto mais os braços até minhas unhas cravarem em sua pele.
– Ai, me solta. - Ela reclama mais, porém não ligo.
Estou fora de mim e só de lembrar que Selly deve ter se sentindo mal ao ver Leila em minha festa, sinto mais raiva.
– Sr. Jonas, por favor pare. - Gail pede docemente e tenta tirar minhas mãos de Elena. – Sr Jonas ?! - Gail pede mais uma vez e solto os braços de Elena ao ver um resquício de lágrima brotar em seus olhos.
Ela se abraça e passa as mão no lugar onde apertei.
– Suma da minha frente, Elena. Antes que eu acabe fazendo uma besteira! - Grito e ela me olha incrédula. – E seu eu ver você chegar perto de Selena, juro que não responderei por mim. E avise a Leila que o que é dela está guardado. - Digo gelidamente e giro nos pés, indo em direção ao meu quarto mas sem antes ver o olhar de pavor de Gail. Chego no quarto e me jogo na cama novamente, perdendo-me em pensamentos.

***
Já é noite quando ouço uma batida na porta e para meu espanto total, Flynn entra no quarto.
– O que faz aqui ? - Rosno.
– Vim ver como se sente. - Diz simplesmente, depois de sentar-se na poltrona ao lado da cama.
– Já viu, agora pode ir embora. Aliás, quem te chamou aqui ? - Pergunto exasperado.
– Você tem empregados muito fiéis e você é querido por eles, Nicholas. - Diz.
– Não veio aqui para falar de meu relacionamento com meus empregados. - Rosno.
Ele fica em silêncio e olho para ele á espera de uma resposta.
– Quer me contar o que aconteceu ? - Diz depois de um tempo.
– Não. Se eu quisesse te contar, ligaria pra você. - Rosno. Ele permanece imóvel e me encarando à espera da resposta. Bufo e passo as mãos pelos cabelos, nervoso. – Selena me deixou. - Ele arregala os olhos mais não diz nada. – Ela me deixou, John! - Falo mais uma vez e tento espantar a angustia que cresce em meu peito.
– Porque ela te deixou ? - Pergunta.
– Porque eu sou um fodido de merda que violentou ela. - Cuspo as palavras em cima dele e sua expressão agora é de completo espanto.
– Como assim ? Pode explicar isso ? - Pergunta interessado.
– Eu a possui em minha sala de jogos de um maneira totalmente selvagem. Fiz ela reviver seu passado de merda. - Paro e ele faz menção para que eu continue. – Tudo começou na sexta a noite, quando a vi com seu vizinho. Ele deu flores a ela e vi em seus olhos o quanto ela tinha gostado. Com raiva daquilo tudo, eu a tratei como uma vadia na minha sala de jogos. Resolvi tratá-la como uma submissa, na tentativa de esquecer certos sentimentos que estão aflorando em mim. Depois de tê-la machucado naquele quarto, me sentir o pior de todos os homens. Tive nojo de mim mesmo. No outro dia, ela estava toda submissa à mim e aquilo me maltratava de um certo jeito. Me senti pior ainda, cada vez que ela me chamava de senhor. Selly não é assim e então percebi o que estava fazendo com ela. Quis mudar, pedi a ela que parasse com aquele tratamento várias vezes, até que antes da festa ela cedeu. Estava tudo bem até que então, Elena apareceu e levou Leila consigo. Aquilo foi o estopim para meu eu fodido voltar a tona. Fui me irritando de uma forma que não posso explicar. Senti meu lado podre se emergir e tentei controlar ao máximo. Tentei não agir como agiria normalmente com uma submissa. Não quis espancá-la para aliviar minha irritação, preferi agir de forma prazerosa para tentar esquecer a noite de merda. Mas sem perceber acabei machucando mais a minha Selly. - Paro e respiro fundo. – Durante todo o ato que praticamos, ela reviveu o passado, no qual foi abusada sexualmente. Você já sabe disso, pois te contei nas primeiras consultas que tivemos, assim que Selly apareceu em minha vida. - Ele assente de cabeça e me olha seriamente. – Eu não quis fazer isso com ela. Eu nem percebi o que estava acontecendo até ver seu olhar apavorado quando acabamos. Aquele olhar me atingiu profundamente. Nunca irei esquecê-lo. - Fecho meus olhos e deixo uma lágrima cair.
– E depois disso ? - Pergunta. Fungo para conter o choro preso na garganta.
– Depois eu a procurei em seu quarto e tivemos uma longa conversa. Ela confessou tudo para mim. Todo seu passado e a cada palavra que ela pronunciava, era como se alguém estivesse perfurando meu coração. Depois de falar de seu passado, eu pedi perdão por fazê-la reviver os fatos e ela conseguiu me surpreender ao dizer que não era minha culpa porque eu não sabia de nada. Isso foi uma punhalada em minha alma obscura. Então resolvi jogar limpo com ela, peguei o relatório que faço com todas minha submissas e entreguei a ela. O olhar que me lançou depois de ver o que tinha naquela pasta foi devastador. - Digo com dor ao lembras dos fatos.
– E aí ? - John como sempre ávido por respostas.
– E aí ela me mais uma vez me surpreendeu. Não culpou por eu ser uma sádico fundido de merda. Me culpo por tê-la perseguido mesmo sabendo de tudo e ainda por cima ter evitado que se apaixonasse por mim. - Surrurro as ultimas palavras e vejo um John embasbacado. – Ela se declarou para mim. - Olho para ele, com os olhos arregalados de pavor. – Ela disse que me amava e que queria mais, que precisava de mais. - abaixo minha cabeça, tamanha é minha vergonha.
– E como você se sente quanto a isso ? - Pergunta.
– O pior ser humano do mundo. O sentimento de culpa e nojo me corrói minuto a minuto. Tenho nojo de mim mesmo por ter feito o que fiz com ela. E ainda mais por ela me amar, mesmo sendo o que sou. - Digo com acidez e minha voz.
– E o que você é Nicholas ? - Ele pergunta mais uma vez.
– Você já sabe o que sou. Um filho da puta de merda, que não a merece. Não mereço que alguém como ela me ame, me deseje.. Ela merece alguém melhor que eu. - Rosno as palavras perdido nas lembranças.
–Nicholas o que você sente por ela ? - Pergunta.
– Você sempre irá me fazer essas perguntas em todas consultas? - Pergunto exasperado e ele sorri. Bufo e reviro os olhos. – Eu a amo, se é isso que você quer ouvir. Eu nunca pensei que fosse capaz de dizer isso, mas eu amo Selena. Ela é a mulher da minha vida, o meu anjo. Sei que neguei isso várias vezes, mas tive medo de escutar o que meu interior dizia e olha só onde estou. Em cima de uma cama, desabafando com um charlatão caro sobre o amor que tenho pela aquela mulher. - Digo e então rimos.
– Charlatão caro.. - John diz e rimos mais uma vez ao lembrar de Selly. Assim que paramos de rir ele me olha por um instante. – Então, o que pretende fazer? - Pergunta.
– Não sei. Não tenho vontade de nada se não tenho Selly comigo. - Digo com sinceridade e ele franze a boca, pensativo.
– Realmente Selly fez mais progresso com você em menos de um mês, do que eu fiz em anos. Realmente sou um charlatão caro. - Ele diz e sorrio. – Não irá mesmo fazer nada a respeito ? - Bufo exasperado e confuso.
– Ela que me tocar e não sei se suportaria isso. - Digo, aflito só de imaginá-la ao me tocar. – Não quero machucá-la mais do que já a machuquei. - Digo.
– Bem, Nicholas como eu sempre lhe digo, devemos viver um dia de cada vez. Fale com ela sobre sua fobia*. E só assim vocês poderão resolver algo sobre a relação de ambos. - Ele diz e assinto de cabeça.
– Bom, agora tenho que ir. Já está tarde e Rhian me espera em casa. - Ele se levanta e vem até a mim. – Pode deixar que mando a conta da consulta extra no fim do mês. - Diz brincalhão como sempre e estende a mão para mim.
– Obrigado John. - Agradeço e aperto sua mão.
– Estou aqui para isso. - Sorri e assim o acompanho até o elevador.
Volto para o apartamento e vejo que Gail já pôs o jantar. Começo a comer em silêncio até que Gail e Taylor aparecem e me observam. Acabo de comer e agradeço pelo jantar a Gail. Viro-me para ir pro quarto mas lembro de algo e giro nos pés.
– Obrigado, Taylor. - Digo e ele franze a testa em confusão para mim.
Sei que foi ele quem chamou John aqui. Depois de longos minutos, desfaz a ruga em sua testa e sorri, assentindo de cabeça. Sorrio e volto a fazer meu percurso para o quarto. Me aconchego na cama e durmo inalando o cheiro de Selly.

***
Acordo em uma manhã de segunda-feira, disposto a tudo. Tomo meu banho e faço minha higiene matinal. Sigo para a cozinha e tomo meu café da manhã, com Taylor a postos e assim partirmos para GEH. Assim que Taylor me deixa na empresa, ordeno-o que vá vigiar Selly. Preciso saber que ela está bem. Passo o dia todo afundado em reuniões e aquisições até que dá a hora de voltar para minha escuridão em meu apartamento.
Pergunto a Taylor sobre o dia de Selly e, relutantemente, ele me conta. Me enfureço ao saber que está caminhando com aquele merda. Isso não está ficando nada bom para meu lado. De repente a aflição me atinge ao cogitar a possibilidade de vê-la nos braços de outro. Depois de jantar sozinho, como sempre, vou para o quarto de Selly, que agora é o meu quarto. Não consigo dormir em meu quarto mais. Preciso do cheiro dela, das lembranças dela que há naquele quarto. Assim que entro, vejo as fotos que pedi a Taylor para fazer. Penduro-as pelas paredes do quarto e deito na cama. Fico horas olhando as fotos, perdidos nas lembranças que elas me trazem, até que adormeço aconchegado no travesseiro.
Acordo de meu frequente pesadelo com Selly e vejo que só se passou uma hora. Levanto da cama e saio do quarto, descendo as escadas apressadamente. Chego na sala e sigo para o piano. Começo a tocar Marcello, uma peça de Bach e assim sigo tocando com minha alma, que sangra com minha dor.
***
Já é sexta feira e cada vez mais, me sinto pior. Selly está correndo todas as manhãs com aquele vizinho e pelo visto estão se dando muito bem. Isso está me dilacerando por dentro. Não consigo dormir mais e nem quero dormir. Já estou sendo torturado acordado a cada vez que sei de noticias em relação à ela. Não preciso ser torturado em meus pesadelos. A minha realidade é amarga e merecida. Eu causei isso, eu mereço isso. Ela merece ser feliz e cada vez mais me convenço de que não sou o melhor para ela. Coragem me falta para ir até ela e me declarar, não suportarei sua rejeição, então é melhor venerá-la de longe. Mas ao mesmo tempo quero está perto, preciso estar perto. -Que merda, Jonas! Estou parecendo um verdadeiro babaca. Amo uma mulher e está com medinho de se declarar! Não, preciso tomar coragem mais uma vez, preciso pelo menos ter a chance de me redimir com Selena. Ela precisa ouvir o que tenho a dizer. E é isso que vou fazer!
– Jonas. - A voz de Ross me chama.
– Sim.. - Respondo ao observar mulher que entra em minha sala na JEH.
– Esse amanhã irei em uma exposição, no qual estou patrocinando e queria que você me acompanhasse ? - Ross pede com um sorriso nos lábios e bufo exasperado.
– Não, obrigado. - Respondo.
– Ah Nicholas, Melissa não poderá ir comigo e não quero ir sozinha. Por favor? Pense que será bom para a JEH, pois fiquei sabendo que terá empresários por lá. - Pede e franzo a boca, pensativo. – Você está precisando sair, anda muito nervoso ultimamente. - Diz e pisca sugestivamente para mim.
– Ok, eu vou. - Respondo emburrado.
Ela sorri amplamente e sai da sala, fazendo festa. Balanço a cabeça descrente do que acabei de aceitar. Nada melhor do que aturar uma exposição com um bando de velhos empresários, com suas conversas irritantes. Bufo e volto a atenção para meu trabalho, passando a tarde inteira no mesmo.


 Comentários... :)



Creditos Angel

3 comentários:

  1. eles vao se encontrar na exposiçao do david. omg omg omg pode postar mais manha okay

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  2. Aaaahh eles finalmente vão de encontrar. Posta logo plzz

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