– Adeus, Nicholas. - Sibila.
– Selena. - Sussurro e assim as portas se fecham, caio de
joelhos olhando aquelas portas de metal frio levando consigo a única que
conseguiu me possuir de uma maneira que nunca pensei ser possível.
Levo minha mão no peito para tentar acalmar minha respiração
pesada, devido à uma súbita falta de ar que me atinge em cheio. Meu lábios
trêmulos denunciam o frio que passa pelo meu corpo. Levanto cambaleante e volto
para meu apartamento. O apartamento que se encontra totalmente vazio e sem
vida, sem meu anjo aqui. Que merda que você foi fazer, Jonas ?! Olho a sala
agora escura em seu silêncio ensurdecedor e vejo Gail parada em uma fresta de
luz, que entra pela janela. Consigo ver a piedade exalando de seus olhos.
– Sr Jonas, deseja algo ? - Sinto a compaixão em seu tom de voz.
Se fosse em outros tempos eu iria me aborrecer muito por me
olhar dessa forma, mas hoje não estou importando com nada mais. Sinto uma dor
tão grande em minha alma negra ao ponto de não ter mais vontade de viver. Meu
coração, que nem sabia que tinha um, está destroçado. É Jonas, você sempre se
gabou achando que não tinha um coração e quando descobre que tem um, ele está
em carne viva. Que bela maneira de descobrir algo. Mas é bem feito, quem mandou
ser um filha da puta com a mulher de sua vida. Sim, porque é isso que Selena é!
– Sr Jonas ? - A voz melosa de Gail, me tira de meus devaneios.
– Não Gail, pode voltar a dormir. - Sussurro automaticamente e
começo a andar em passos lentos em direção a escada.
Subo para o segundo andar e volto para o quarto onde minha Selena
passou seus últimos minutos. Assim que entro, sinto as lágrimas invadirem meus
olhos e seguro-as para que não caia. Desde que cheguei na casa dos Jonas, me
proibi terminantemente de chorar e desde então nunca chorei. Não será agora que
irei chorar! Tento me manter firme nesse pensamento, mas sou vencido pela
tristeza e assim uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Percorro meu olhar pelo recinto, mas algo me chama atenção
rapidamente, fazendo-me parar os olhos na caixa prateada em cima da poltrona
que está ao lado cama. O presente que Selena me deu antes de irmos para a
festa. Aproximo lentamente e pego a caixa nas mãos. Respiro fundo e abro a
caixa lentamente. Assim que abro, me deparo com outra caixinha dentro, sendo
essa feita de vimê. Abro e sorrio com as lembranças que meu presente me trazem.
Tiro de dentro da caixinha uma gravata de seda vermelha, uma garrafa de rum
Mount Gay e uma miniatura de vidro, onde se vê a cidade onde ficamos em
Barbados. No fundo da caixa encontro dois bilhetes em papel pardo. Abro o
primeiro e começo a ler:
''Caro senhor Jonas.
Sei que adora ser chamado dessa maneira,
pois vejo seus olhos brilharem ao ouvir essas palavras serem pronunciadas.
Esse bilhete é para explicar o presente.
Não sabia o que dar para alguém que já tem tudo.
Espero que goste do presente.
A gravata é para completar sua coleção,
a cor vermelha simboliza sua sala de jogos e o rum...
Ah, o rum simboliza momentos mágicos que vivi com você.
Sua Srta Gomez.''
Sorrio
e pego o segundo bilhete:
''Feliz Aniversário, garotão!
Sim, meu garotão por cada sorriso de garoto que você me deu em nossa primeira vez.
Toda vez que vejo esse seu sorriso, consigo ver a linda pessoa que você é por dentro, que você se recusa a deixar o mundo ver.
Espero que algum dia você perceba a imensidão de seu sorriso
e do coração que possui.
Obrigada por ser minha ''primeira vez'' e por eu ser seu primeiro baunilha.
Beijos, Selena! ''
Sim, meu garotão por cada sorriso de garoto que você me deu em nossa primeira vez.
Toda vez que vejo esse seu sorriso, consigo ver a linda pessoa que você é por dentro, que você se recusa a deixar o mundo ver.
Espero que algum dia você perceba a imensidão de seu sorriso
e do coração que possui.
Obrigada por ser minha ''primeira vez'' e por eu ser seu primeiro baunilha.
Beijos, Selena! ''
Não controlo mais as lágrimas ao acabar de ler os bilhetes e
fungo bruscamente. Aperto os bilhetes contra o peito e fecho meus olhos,
deixando-me levar pela dor que cresce cada vez mais em mim. Minha baunilha,
minha doce e eterna baunilha.
Abro meus olhos e passo a mão na gravata de seda. Oh, baby! Me
perdoe por ter feito o que fiz ? Por ser que sou ?! Peço numa prece silenciosa.
Passo meus olhos pelo quarto que ela decorou e sorrio ao lembrar de sua
expressão de susto quando percebeu minha presença, enquanto terminava de pintar
o quarto. Paro meus olhos na colagem de fotos que há na parede da cabeceira da cama.
Me ajoelho na cama e aproximo-me das fotos. São fotos de nossa viagem. Há fotos
com o irritante de seu amigo, com Demi e Joseph. Mas as que me chamam a
atenção, são as nossas fotos tiradas em momentos íntimos. A primeira é a minha
foto, na qual me pegou desprevenido e a segunda foto ela está puxando meus
lábios com seus dentes famintos.
Passo a mão por cima das fotos e de repente um sentimento de
culpa e ódio me atinge em cheio. Saio de cima da cama e vou direto para minha
sala de jogos. Assim que entro, meu ódio triplica e num ato de fúria, começo a
destruir o lugar onde perdi meu anjo.
– Jonas, seu merda! - Grito ao jogar o banco que está perto da
porta na parede.
Com toda minha força, derrubo a mesa que fica no lado direito do
quarto, e assim ela fica de pé para cima. Passo a mão pelos cintos, chicotes e
tudo mais que vejo na estante de madeira, arrancando-os e atirando-os pelo chão
do quarto. Saio do quarto e desço rapidamente as escadas, sigo para a cozinha á
procura de álcool e fósforo pela casa. Assim que encontro, pego uma faca na
cozinha e volto para a sala de jogos. Ateio fogo nos objetos que joguei no chão
e observo-os queimar minuciosamente. Depois de ver a ultima sombra de fumaça,
saindo do ninho que fiz, sigo para as cômodas e começo a arrancar as gavetas
bruscamente e jogá-las pelo quarto.
Em seguida, vou até a cama e rasgo os lençóis com toda a força
que encontro em mim. Choro com as ultimas lembranças que tive nessa cama ao
violentar Selena, pois foi isso que eu fiz. Eu violentei a mulher que... A
mulher que ... Começo a ofegar ao sentir-me obrigado a aceitar o fato de que
estou completamente apaixonado por ela. Selena é a mulher que amo! Tão lutei
para ignorar esse sentimento, que me acerca a tempos, até que magoei a única
pessoa que fez meu coração bater. Que viu realmente quem sou, viu minha alma
negra ao olhar-me nos olhos e mesmo assim não fugiu. Mas você deu um jeito dela
sumir de sua vida, né Jonas!
– Porque eu tenho que ser um fodido? Porque tinha que corromper
um anjo? Porque eu não consegui amar minha garota como ela realmente merece?
Porque ? Porquê ? - Grito com raiva e começo a rasgar as fronhas dos
travesseiros. Em seguida, pego a faca que coloquei no bolso da calça e começo a
rasgar o colchão, quando mãos fortes me impedem de continuar meu trabalho, me
arrastando para longe da cama. – Me solta! - Grito me debatendo, e assim sou
largado no chão.
Tento acalmar minha respiração ofegante e levanto meu olhar,
encontrando com o olhar assustado de Gail na porta. Olho para Taylor, que está
me olhando atentamente.
– Sr Jonas, venha. Vamos cuidar desse ferimento. - Gail diz com
a voz vacilante.
Olho para Taylor assustado e assim percorro meu corpo com meus
olhos, à procura de algum indício de machucado. Me assusto mais ao notar minha
mão sangrando. Estranho, pois não sinto dor.
– Dê-me aqui essa faca ? - Taylor pede cautelosamente.
Olho cético para ele por um instante, mas logo lhe entrego o
objeto, que ele guarda no bolso rapidamente. Com cautela para não me tocar, ele
me ajuda a se erguer do chão e me conduz para fora da sala. Começa a fazer o
caminho para a escada, quando me recuso, parando no meio do corredor.
– Vou para o quarto de Selena. - Digo, olhando para o nada,
perdido em pensamentos com meu anjo.
Taylor então me guia até o quarto que era de Selena e me ajuda a
sentar na cama. Permaneço imóvel, sem vontade para nada. Acho que nesse momento
se alguém me tocasse eu nem reagiria, tamanha é minha falta de vontade de
viver. Não quero viver sem minha doce Selly. Preciso dela em minha vida. E eu
não a ver mais, nunca mais ? E se não restar mais nada, exceto uma memória como
um eco distante ? Não, não, me recuso a aceitar que acabou assim, tenho que
correr atrás dela, reivindicá-la pra mim. Mas e se for tarde demais ? Se eu
tiver perdido minha chance ? Se ela quiser seguir com sua vida ? Como vou viver
sem ver aquele par de olhos azuis brilhantes e puros sequer um dia ?
– Pronto, sr Jonas. - a voz de Gail tira-me de meu sofrimento
interno.
Olho para ela confuso, mas logo vejo que está se referindo ao
curativo em minha mão. Olho para minha mão, incrédulo de sua rapidez e volto
meu olhar para ela, que me oferece um sorriso complacente.
– Obrigado, Gail. - E é só isso que consigo dizer.
Ela assente e se encaminha para fora do quarto. Taylor a
acompanha, mas logo chamo-o e ele para, se virando para mim.
– Sim, senhor Jonas ? - Pergunta.
– Selly... Como.... - Tento formular um pergunta, mas está difícil.
Pigarreio e suspiro. – Ela falou algo ? Como ela estava ? - Pergunto aflito e
Taylor se enrijece. Ele me olha por um logo tempo, como se estivesse incomodado
com algo. – Fale, Taylor ? - Peço mais aflito.
– Senhor Jonas.. - Ele para e suspira. – Ela não estava nada
bem. Chorou o caminho todo e.. - Ele para e me fita com a testa franzida.
– Diga. - Grito.
– Ela pediu para que cuidasse de você. - Taylor responde e sinto
algo em meu coração ferido se quebrar mais. Ela ainda pensa em mim! Depois de
tudo o que eu fiz e ela ainda pensa em mim. Ela é um anjo mesmo e eu não a
mereço. – Mas alguma coisa senhor ? - Pergunta incomodado e nego com a cabeça.
Assim ele sai e fecha a porta atrás de si. Olho para o quarto a
minha volta e reparo sua câmera no canto do quarto. Ela deve ter esquecido.
Levanto e pego sua câmera do chão. Tiro o resto de roupa que me cobre e deito
nu na cama, enrolando-me nos edredons com o cheiro de minha amada. Seu cheiro
divino de baunilha. Ligo sua câmera e começo a rever as fotos de nossa viagem.
Passo uma a uma até que as fotos que tirei dela fazendo caras e bocas aparecem.
Estão lindas. Fico olhando por horas até minhas pálpebras pesarem e eu
adormecer.
***
Acordo suado e ofegante do pesadelo que tive com Selly. Olho
para os cantos e reparo que estou no quarto de Selly. Acalmo minha respiração e
deito novamente na cama. Merda, merda, merda! Já estou acostumado a ter
pesadelos sem a presença dela, mas tinha que ser justo com ela? Geralmente é
com o cafetão e prostituta de meu passado. Dessa vez foi diferente. Foi com
ela. Minha Selly e aquele imbecil de seu vizinho, juntos. Se abraçando, se
beijando. Trinco meus dentes ao imaginá-la sendo reivindicada por outro que não
seja eu.
Olho para a janela vejo a grande Seattle acordada e atormentada
com suas nuvens escuras. Parece que hoje será um dia de tempestades. Ouço um
barulho vindo do corredor e olho imediatamente para a porta. Reparo no adesivo
que colado na parede e analiso o desenho, atentamente. Um casalzinho se
beijando, sorrio com o romantismo de Selena, mas logo meu sorriso morre. Eu
sempre soube que ela é dada à flores e corações e mesmo assim fiz de tudo para
fodê-la loucamente naquela merda de sala. Definitivamente não sou o que ela
merece.
Tive essa percepção ao vê-la cheirando as flores que aquele
merda deu à ela. Aquilo me feriu de uma tal maneira, que fiquei cego de raiva.
Quis machucá-la da mesma maneira, que aquilo me machucou, naquele quarto. A
tratei com uma frieza descomunal, que nem sabia que tinha em mim. Mas depois ao
ficar sozinho naquela sala, me sentir o pior dos merdas por tratá-la daquela
maneira. E cada vez mais me convencia de que o certo era deixá-la ir embora,
viver a vida que merece. A vida que aquele filho da puta pode dar à ela e não
eu. Mas cada vez o medo de perdê-la me atormentava, e aí eu a tratava do jeito
que merece: sendo apresentada a todos como minhas namorada. Pois cada vez que a
chamei como minha namorada, eu realmente sentia que ela era uma e não uma
submissa.
Mas aí tinha que aparecer Elena, e pior ainda com Leila, para
fazer meus instintos selvagens. Queria que esse aniversário fosse o melhor de
todos por ter Selly comigo, mas não como sempre algo tem que estragar. Selly
ficou irritada, como de costume, com a presença de Leila e Elena. Me senti
acuado e quis extravasar minha raiva de alguma maneira, sem ter que tocar a
palma de minha mão nela. Optei por ter uma trepada sacana com ela e nem percebi
algum gesto vindo dela. Só de lembrar de Selly correndo de mim depois, me dá um
aperto no peito. Como eu pude ser tão insensível ao fazê-la reviver seu passado
de merda ? Nunca irei me perdoar por isso.
E vê-la confessar seu passado me doeu mais ainda. A cada palavra
que ela pronunciava, me doía e ao mesmo tempo me fez ter ódio mortal desse
filho da puta do Mark. Se um dia encontrá-lo irei acabar com a vida dele.
– Senhor Jonas ? - A voz de Gail me tira dos devaneios,
fazendo-me olhar para porta.
– Sim, Gail ?! - Franzo a testa ao vê-la entrar com uma bandeja
de café da manhã.
– Trouxe seu café, senhor. - Olho-a confuso. – Como o senhor não
se levantou, eu pensei em trazê-lo. - Diz, com um sorriso de desculpas nos
lábios.
– Obrigado, mas o que você está fazendo aqui ? Hoje é domingo,
seu dia de folga! - Digo confuso com sua presença. – A dispensei ontem depois
do café da manhã.
– Sim, eu lembro senhor. Mas como não fui para Portland visitar
minha irmã, Jason me chamou e contou do ocorrido. - Diz, sem graça.
– Ok. Mas não estou com fome. - Resmungo. Até meu apetite Selly
levou com ela.
– Agora o senhor precisa se alimentar. - Ela diz com seu sorriso
terno, ao colocar a bandeja em meu colo. – Só um pouco, Nicholas. - Me espanto
pela maneira que se refere à mim.
Em todos esse anos que trabalha comigo, ela e Taylor nunca me
chamaram pelo nome! Continuo a olhar para ela, mas desisto de lutar contra seu
enorme sorriso. Me ajeito para dar mais comodidade e pela primeira vez em doze
horas, abro um sorriso sincero para ela. Começo a comer automaticamente, sob a
supervisão de Gail e sinto-me como um garoto que precisa ser observado para que
não faça besteiras. Mas até que me sinto bem com seus cuidados. Definitivamente
Gail tem uma paciência enorme comigo. Me faz até lembrar de minha mãe, Grace.
Elas duas são muito bondosas comigo, sem contar com ela.. Selly. Ela sim foi
muito paciente comigo.
– O senhor deseja mais alguma coisa? - A voz de Gail interrompe
meus devaneios e só assim vejo que já acabei de comer.
– Não, obrigado Gail. - Digo atônito e assim ela pega a bandeja
de meu colo. – Só chame Taylor, por favor. - Digo e ela assente de cabeça.
Sigo seu percurso até a porta com meu olhar e me aconchego mais na
cama assim que ela fecha a porta atrás de si. Volto meu olhar para a janela e
novamente sou atingido pelos pensamentos insanos. Ah, baby! Como será que você
está ? Será que algum dia verei sua pele nua colada ao meu corpo ? Será que
verei seus belos e doces olhos azuis despertarem em uma manhã ensolarada ? Bufo
fecho meus olhos, na tentativa de apagar o ocorrido de minha mente, mas é
inútil. Sempre serei atormentado pelo que fiz a ela. Uma batida na porta me faz
voltar para o presente e logo Taylor se materializa, adentrando o quarto.
– Taylor, quero que faça grandes retratos com essas fotos para
colocar na parede o mais rápido possível. - Entrego-lhe a câmera de Selly que
deixei de lado, na cama.
– Sim, senhor. Mas alguma coisa? - Pergunta em modo profissional.
– Quero que vigie Selena sem que ela perceba e é só. Está
dispensado. - Digo, com o olhar perdido na janela.
– O senhor não irá levantar da cama ? - Pergunta e me surpreendo
por sua indiscrição.
– Não. - Rosno.
Ele me olha por um momento, mas logo assente de cabeça e sai do
quarto. Olho pasmo para a porta. Sairei da cama quando eu quiser! Agora deram
para se meter em minha vida. Bufo e me enrosco nos lençóis novamente, me
acalmando ao sentir o cheiro de Selly neles. Oh, minha baunilha! Pego o travesseiro
e me abraço a ele, sentido o perfume dela mais forte e acabo adormecendo.
***
Desperto suado de meu breve sono e vejo que são 13hrs00min da
tarde. Merda! Será que esses pesadelos com Selly nunca mais vão me deixar em
paz. Cambaleio até o banheiro e entro no box de roupa e tudo. Apoio o braço na
parede e deixo a agua gelada escorrer pelo meu corpo. Porque a merda daquele
Julian junto com Selly tem que me assombrar ? Que inferno. Já não basta o que
estou vivendo com minha culpa, agora vem ele para acabar de vez comigo ? Conto
até dez mentalmente na tentativa de controlar minha raiva para não fazer uma
besteira novamente, mas falho miseravelmente. Num ato impensado, derrubo todos
os frascos de shampoo, condicionador e sabonete no chão, ao bater no suporte e
assim todos os frascos de vidros se quebram. Vejo o sangue escorrer de minha
mão, devido ao corte que tive ontem a noite. Merda! Saio do banheiro com a
roupa ensopada e desço para a cozinha a procura de Gail.
– Gail, onde esta a caixa de primeiros socorros ? - Pergunto
assim que chego na cozinha.
Ela se vira para mim e se assusta ao ver meu estado.
– O que houve? - Pergunta preocupada, vindo até a mim. – Deixa
que eu cuido disso. - Ela diz ao analisar minha mão. – Mas agora o senhor
precisa se trocar, se não irá pegar um resfriado. - Diz e assim eu o faço.
Depois de trocar de roupa, volto para a cozinha e sento no banco
à espera de Gail. Ela refaz meu curativo pacientemente, mas é visível o medo em
seus olhos. Medo de que ? De mim ?
– Não precisa ter medo de mim, não irei machucá-la, Gail. - Digo
com a testa franzida.
– Eu sei, Nicholas. - Ela levanta os olhos até o meu e vejo
sinceridade em seus olhos.
Ela volta para meu curativo e logo somos interrompidos pelo
barulho do elevador se abrindo. Quem será? Espero que não seja ninguém de minha
família. Nãos estou com saco para recebê-los. Gail acaba com meu curativo e
assim sigo para a sala para ver quem é. Trinco meus dentes e cerro meus pulsos
ao ver Elena parada no meio de minha sala.
– Como você entrou sem ser anunciada ? - Rosno para ela,
tentando ao máximo me controlar.
– Hey meu garoto, como você está? - Ela abre seu sorriso cínico.
– Responda, Elena! - Grito e ela levanta as sobrancelhas.
– Calminha. - Ela se encaminha até a mim e leva as duas mãos em
meu rosto. – Vejo que meu garoto está estressado. - Diz com um olhar em
reprovação.
Levo minhas mãos até as suas e tiro-as de meu rosto.
– Não sou seu garoto, Elena! - Rosno. – Eu não sei o que você
veio fazer aqui, mas é melhor você ir embora, para o seu próprio bem - Ameaço e
ela ri.
– Nossa, que nervosinho você, Nicholas. Está precisando de uma
distração. Sua queridinha não está lhe satisfazendo mais não ? - Pergunta com
deboche e é o fim pra mim.
Num impulso, agarro Elena pelos braços e sem me importar com a
dor em meu ferimento, aperto-os até sentir meus dedos doerem.
– Nunca.Mais.Fale.De.Selena. - Rosno. – Ouviu bem? Se eu ouvi o
nome de Anstasia na sua boca, juro que você irá se arrepender. - Ameaço e ela
arregala os olhos.
– Nicholas, está me machucando. - Reclama. Sorrio diabolicamente
para ela, que se espanta ainda mais.
– Não é você que gosta de dor ? - Pergunto friamente. – Não é
você que gosta de machucar as pessoas ? - Aperto mais os braços até minhas
unhas cravarem em sua pele.
– Ai, me solta. - Ela reclama mais, porém não ligo.
Estou fora de mim e só de lembrar que Selly deve ter se sentindo
mal ao ver Leila em minha festa, sinto mais raiva.
– Sr. Jonas, por favor pare. - Gail pede docemente e tenta tirar
minhas mãos de Elena. – Sr Jonas ?! - Gail pede mais uma vez e solto os braços
de Elena ao ver um resquício de lágrima brotar em seus olhos.
Ela se abraça e passa as mão no lugar onde apertei.
– Suma da minha frente, Elena. Antes que eu acabe fazendo uma
besteira! - Grito e ela me olha incrédula. – E seu eu ver você chegar perto de Selena,
juro que não responderei por mim. E avise a Leila que o que é dela está
guardado. - Digo gelidamente e giro nos pés, indo em direção ao meu quarto mas
sem antes ver o olhar de pavor de Gail. Chego no quarto e me jogo na cama
novamente, perdendo-me em pensamentos.
***
Já é noite quando ouço uma batida na porta e para meu espanto
total, Flynn entra no quarto.
– O que faz aqui ? - Rosno.
– Vim ver como se sente. - Diz simplesmente, depois de sentar-se
na poltrona ao lado da cama.
– Já viu, agora pode ir embora. Aliás, quem te chamou aqui ? -
Pergunto exasperado.
– Você tem empregados muito fiéis e você é querido por eles, Nicholas.
- Diz.
– Não veio aqui para falar de meu relacionamento com meus
empregados. - Rosno.
Ele fica em silêncio e olho para ele á espera de uma resposta.
– Quer me contar o que aconteceu ? - Diz depois de um tempo.
– Não. Se eu quisesse te contar, ligaria pra você. - Rosno. Ele
permanece imóvel e me encarando à espera da resposta. Bufo e passo as mãos
pelos cabelos, nervoso. – Selena me deixou. - Ele arregala os olhos mais não
diz nada. – Ela me deixou, John! - Falo mais uma vez e tento espantar a
angustia que cresce em meu peito.
– Porque ela te deixou ? - Pergunta.
– Porque eu sou um fodido de merda que violentou ela. - Cuspo as
palavras em cima dele e sua expressão agora é de completo espanto.
– Como assim ? Pode explicar isso ? - Pergunta interessado.
– Eu a possui em minha sala de jogos de um maneira totalmente
selvagem. Fiz ela reviver seu passado de merda. - Paro e ele faz menção para
que eu continue. – Tudo começou na sexta a noite, quando a vi com seu vizinho.
Ele deu flores a ela e vi em seus olhos o quanto ela tinha gostado. Com raiva
daquilo tudo, eu a tratei como uma vadia na minha sala de jogos. Resolvi
tratá-la como uma submissa, na tentativa de esquecer certos sentimentos que
estão aflorando em mim. Depois de tê-la machucado naquele quarto, me sentir o
pior de todos os homens. Tive nojo de mim mesmo. No outro dia, ela estava toda submissa
à mim e aquilo me maltratava de um certo jeito. Me senti pior ainda, cada vez
que ela me chamava de senhor. Selly não é assim e então percebi o que estava
fazendo com ela. Quis mudar, pedi a ela que parasse com aquele tratamento
várias vezes, até que antes da festa ela cedeu. Estava tudo bem até que então,
Elena apareceu e levou Leila consigo. Aquilo foi o estopim para meu eu fodido
voltar a tona. Fui me irritando de uma forma que não posso explicar. Senti meu
lado podre se emergir e tentei controlar ao máximo. Tentei não agir como agiria
normalmente com uma submissa. Não quis espancá-la para aliviar minha irritação,
preferi agir de forma prazerosa para tentar esquecer a noite de merda. Mas sem
perceber acabei machucando mais a minha Selly. - Paro e respiro fundo. –
Durante todo o ato que praticamos, ela reviveu o passado, no qual foi abusada
sexualmente. Você já sabe disso, pois te contei nas primeiras consultas que
tivemos, assim que Selly apareceu em minha vida. - Ele assente de cabeça e me
olha seriamente. – Eu não quis fazer isso com ela. Eu nem percebi o que estava
acontecendo até ver seu olhar apavorado quando acabamos. Aquele olhar me
atingiu profundamente. Nunca irei esquecê-lo. - Fecho meus olhos e deixo uma
lágrima cair.
– E depois disso ? - Pergunta. Fungo para conter o choro preso
na garganta.
– Depois eu a procurei em seu quarto e tivemos uma longa
conversa. Ela confessou tudo para mim. Todo seu passado e a cada palavra que
ela pronunciava, era como se alguém estivesse perfurando meu coração. Depois de
falar de seu passado, eu pedi perdão por fazê-la reviver os fatos e ela
conseguiu me surpreender ao dizer que não era minha culpa porque eu não sabia
de nada. Isso foi uma punhalada em minha alma obscura. Então resolvi jogar
limpo com ela, peguei o relatório que faço com todas minha submissas e
entreguei a ela. O olhar que me lançou depois de ver o que tinha naquela pasta
foi devastador. - Digo com dor ao lembras dos fatos.
– E aí ? - John como sempre ávido por respostas.
– E aí ela me mais uma vez me surpreendeu. Não culpou por eu ser
uma sádico fundido de merda. Me culpo por tê-la perseguido mesmo sabendo de
tudo e ainda por cima ter evitado que se apaixonasse por mim. - Surrurro as
ultimas palavras e vejo um John embasbacado. – Ela se declarou para mim. - Olho
para ele, com os olhos arregalados de pavor. – Ela disse que me amava e que
queria mais, que precisava de mais. - abaixo minha cabeça, tamanha é minha
vergonha.
– E como você se sente quanto a isso ? - Pergunta.
– O pior ser humano do mundo. O sentimento de culpa e nojo me
corrói minuto a minuto. Tenho nojo de mim mesmo por ter feito o que fiz com
ela. E ainda mais por ela me amar, mesmo sendo o que sou. - Digo com acidez e
minha voz.
– E o que você é Nicholas ? - Ele pergunta mais uma vez.
– Você já sabe o que sou. Um filho da puta de merda, que não a merece.
Não mereço que alguém como ela me ame, me deseje.. Ela merece alguém melhor que
eu. - Rosno as palavras perdido nas lembranças.
–Nicholas o que você sente por ela ? - Pergunta.
– Você sempre irá me fazer essas perguntas em todas consultas? -
Pergunto exasperado e ele sorri. Bufo e reviro os olhos. – Eu a amo, se é isso
que você quer ouvir. Eu nunca pensei que fosse capaz de dizer isso, mas eu amo Selena.
Ela é a mulher da minha vida, o meu anjo. Sei que neguei isso várias vezes, mas
tive medo de escutar o que meu interior dizia e olha só onde estou. Em cima de
uma cama, desabafando com um charlatão caro sobre o amor que tenho pela aquela
mulher. - Digo e então rimos.
– Charlatão caro.. - John diz e rimos mais uma vez ao lembrar de
Selly. Assim que paramos de rir ele me olha por um instante. – Então, o que
pretende fazer? - Pergunta.
– Não sei. Não tenho vontade de nada se não tenho Selly comigo.
- Digo com sinceridade e ele franze a boca, pensativo.
– Realmente Selly fez mais progresso com você em menos de um
mês, do que eu fiz em anos. Realmente sou um charlatão caro. - Ele diz e
sorrio. – Não irá mesmo fazer nada a respeito ? - Bufo exasperado e confuso.
– Ela que me tocar e não sei se suportaria isso. - Digo, aflito
só de imaginá-la ao me tocar. – Não quero machucá-la mais do que já a
machuquei. - Digo.
– Bem, Nicholas como eu sempre lhe digo, devemos viver um dia de
cada vez. Fale com ela sobre sua fobia*. E só assim vocês poderão resolver algo
sobre a relação de ambos. - Ele diz e assinto de cabeça.
– Bom, agora tenho que ir. Já está tarde e Rhian me espera em
casa. - Ele se levanta e vem até a mim. – Pode deixar que mando a conta da
consulta extra no fim do mês. - Diz brincalhão como sempre e estende a mão para
mim.
– Obrigado John. - Agradeço e aperto sua mão.
– Estou aqui para isso. - Sorri e assim o acompanho até o
elevador.
Volto para o apartamento e vejo que Gail já pôs o jantar. Começo
a comer em silêncio até que Gail e Taylor aparecem e me observam. Acabo de
comer e agradeço pelo jantar a Gail. Viro-me para ir pro quarto mas lembro de
algo e giro nos pés.
– Obrigado, Taylor. - Digo e ele franze a testa em confusão para
mim.
Sei que foi ele quem chamou John aqui. Depois de longos minutos,
desfaz a ruga em sua testa e sorri, assentindo de cabeça. Sorrio e volto a
fazer meu percurso para o quarto. Me aconchego na cama e durmo inalando o
cheiro de Selly.
***
Acordo em uma manhã de segunda-feira, disposto a tudo. Tomo meu
banho e faço minha higiene matinal. Sigo para a cozinha e tomo meu café da
manhã, com Taylor a postos e assim partirmos para GEH. Assim que Taylor me
deixa na empresa, ordeno-o que vá vigiar Selly. Preciso saber que ela está bem.
Passo o dia todo afundado em reuniões e aquisições até que dá a hora de voltar
para minha escuridão em meu apartamento.
Pergunto a Taylor sobre o dia de Selly e, relutantemente, ele me
conta. Me enfureço ao saber que está caminhando com aquele merda. Isso não está
ficando nada bom para meu lado. De repente a aflição me atinge ao cogitar a
possibilidade de vê-la nos braços de outro. Depois de jantar sozinho, como
sempre, vou para o quarto de Selly, que agora é o meu quarto. Não consigo
dormir em meu quarto mais. Preciso do cheiro dela, das lembranças dela que há
naquele quarto. Assim que entro, vejo as fotos que pedi a Taylor para fazer. Penduro-as
pelas paredes do quarto e deito na cama. Fico horas olhando as fotos, perdidos
nas lembranças que elas me trazem, até que adormeço aconchegado no travesseiro.
Acordo de meu frequente pesadelo com Selly e vejo que só se
passou uma hora. Levanto da cama e saio do quarto, descendo as escadas
apressadamente. Chego na sala e sigo para o piano. Começo a tocar Marcello, uma
peça de Bach e assim sigo tocando com minha alma, que sangra com minha dor.
***
Já é sexta feira e cada vez mais, me sinto pior. Selly está
correndo todas as manhãs com aquele vizinho e pelo visto estão se dando muito
bem. Isso está me dilacerando por dentro. Não consigo dormir mais e nem quero dormir.
Já estou sendo torturado acordado a cada vez que sei de noticias em relação à
ela. Não preciso ser torturado em meus pesadelos. A minha realidade é amarga e
merecida. Eu causei isso, eu mereço isso. Ela merece ser feliz e cada vez mais
me convenço de que não sou o melhor para ela. Coragem me falta para ir até ela
e me declarar, não suportarei sua rejeição, então é melhor venerá-la de longe.
Mas ao mesmo tempo quero está perto, preciso estar perto. -Que merda, Jonas!
Estou parecendo um verdadeiro babaca. Amo uma mulher e está com medinho de se
declarar! Não, preciso tomar coragem mais uma vez, preciso pelo menos ter a
chance de me redimir com Selena. Ela precisa ouvir o que tenho a dizer. E é
isso que vou fazer!
– Jonas. - A voz de Ross me chama.
– Sim.. - Respondo ao observar mulher que entra em minha sala na
JEH.
– Esse amanhã irei em uma exposição, no qual estou patrocinando
e queria que você me acompanhasse ? - Ross pede com um sorriso nos lábios e
bufo exasperado.
– Não, obrigado. - Respondo.
– Ah Nicholas, Melissa não poderá ir comigo e não quero ir
sozinha. Por favor? Pense que será bom para a JEH, pois fiquei sabendo que terá
empresários por lá. - Pede e franzo a boca, pensativo. – Você está precisando
sair, anda muito nervoso ultimamente. - Diz e pisca sugestivamente para mim.
– Ok, eu vou. - Respondo emburrado.
Ela sorri amplamente e sai da sala, fazendo festa. Balanço a
cabeça descrente do que acabei de aceitar. Nada melhor do que aturar uma
exposição com um bando de velhos empresários, com suas conversas irritantes.
Bufo e volto a atenção para meu trabalho, passando a tarde inteira no mesmo.
Creditos Angel
eles vao se encontrar na exposiçao do david. omg omg omg pode postar mais manha okay
ResponderExcluirAaaahh eles finalmente vão de encontrar. Posta logo plzz
ResponderExcluirPosta mais.. please
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