segunda-feira, 7 de julho de 2014

Original Sin - 79 Capitulo

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Selena pensou durante o caminho. Chegou em casa decidida: iria cozinhar. Não sabia como diabos faria isso, já que nunca nem fritara um ovo na vida, mas queria fazer isso ela mesma. Nicholas tinha fome, então ela o faria. Chegou em casa, e após ver Rosalie, que dormia, rumou a cozinha.

Demetria: Selly, o que você...? – Perguntou, seguindo-a.

Selena: Vou cozinhar. – Disse, decidida.

Demetria: Mas... porque? – Perguntou, confusa.

Selena: Nicholas não come desde o dia do acontecido. E eu tenho pra mim que é por isso que a febre dele vive voltando. Então, vou alimenta-lo. – Sorriu, chegando a despensa da mansão.

Demetria: Porque o hospital não dá comida pra ele? São loucos?

Selena: O médico é um incompetente. Eu tenho que pedir pra que ele faça tudo. E, no estado em que está, eu realmente não acho que Nicholas precise de comida de hospital. Então, eu cozinho. – Disse, saindo da despensa com uma panela.

Demetria: Desde quando você sabe cozinhar? – Perguntou, incredula.

Selena: Eu não sei. – Admitiu, tratando de acender o fogo – Mas veremos se não aprendo. – Se desafiou – Como o tiro foi na barriga, eu temo que ele não deva comer coisas pesadas. Mas precisa de algo forte, porque tá desnutrido, o meu bebê. – Comentou, risonha, lembrando-se do bico que Nicholas deu pra fazer cada vez que ela negava alguma coisa. – Não sei, talvez uma sopa, uma canja...? – Ela olhou confusa pra infinidade de alimentos ali.

Demetria: Eu não sei te ajudar. – Fez uma careta. Selena alisou os cabelos, olhando pra dispensa.

Selena pegou tudo do que ela achava que era forte. Algumas verduras, legumes, temperos e condimentos. Estava voltando pra cozinha quando Britt seguiu ela e Demetria.

Britt: Eu não sei muita coisa, realmente, mas sei de algo que Renée me ensinou a fazer, quando Théo esteve doente. Na verdade eu ouvi ela ordenar um empregado, mas enfim, eu entendi a base.

Selena: Então me ajude aqui. – Disse, animada, e Britt ajudou ela com uma abóbora imensa, enquanto Demetria trazia uma braçada de batatas.

Demetria: O gosto disso vai ficar uma maravilha. – Comentou, irônica, enquanto começava a descascar as batatas.

Britt: Tava pensando nisso também. – Comentou, receosa, partindo a abóbora.


Selena: Eu pensei em por carne, mas acho que fica ruim pra ele digerir. Se bem que... – Ela pensou por um momento – ROSA! – Chamou, animada.

Rosa apareceu, e atendeu ao pedido de Selena. A morena pôs um avental, e foi pro fogão. Não deixou que ninguém lhe ajudasse, só a descascar mesmo. Britt e Demetria, por fim, ficaram sentadas, olhando a morena mexer nas diversas panelas em que inventava. Só restava esperar, rezar, e por fim ter medo, do que sairia dali.

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Selena entrou no hospital, sorrindo de leve, satisfeita. Terminara de cozinhar, tomara um bom banho, ficara com Rosalie bem uma hora. A menina brincou com a mãe, mamou, e voltou a dormir. Selena, que estava de hobbie com a menina, se vestiu, e foi embora. A receita não parecia ter ficado tão ruim. Ela cozinhou bem as verduras, depois as amassou, e misturou todas em uma terrina, com caldo de sopa. Picou uns pedacinhos minúsculos de galinha e misturou. Ficou com a consistência de um mingau grosso, com os pedacinhos picados dentro, de uma cor abóbora clara, e com um leve cheirinho de ensopado. Só que criaram problema pra deixar ela entrar no hospital.

Médico: O que houve? – Perguntou, chegando a recepção, tranquilo.

Enfermeira: Essa senhora insiste em entrar pro quarto com alimentos. Eu disse que o regulamento do hospital não permitia, mas ela insistiu.

Selena: Boa noite, Doutor. – Cumprimentou, sorrindo, virando-se pra ele.

Médico: Deixe ela levar, o que quer que seja. – Disse, prontamente, e saiu da sala. Selena riu.

O problema foi que quando ela chegou no quarto, feliz e saltitante, a cama de Nicholas estava vazia.

Selena: Onde está? – Ela sussurrou, pra si mesma, sendo engolfada por uma sensação ruim – Nicholas? – Chamou, ainda olhando pra cama.

Nicholas: Eu estou aqui. – Respondeu, observando-a.

Selena se virou bruscamente. Uma enfermeira trazia Nicholas, numa cadeira de rodas, roupa trocada, e os cabelos curtos úmidos, vindo da porta do banheiro. Selena respirou fundo, e passou a mão no rosto. Nicholas parecia sério, irritado, e ela não sabia porque. A enfermeira ajudou ele a voltar pra cama, e Selena a dispensou.

Selena: Tem noção do susto que eu tomei? – Perguntou, deixando a terrina no criado mudo.

Nicholas: Eu não vou morrer. Fica tranquila. Eu prometi. – Disse, e sua voz era séria.

Selena: Aconteceu alguma coisa depois que eu sai daqui? – Perguntou, desconfiada.

Nicholas: Não. Eu fiquei aqui, e depois tomei banho, e ai você chegou. – Disse, curto e grosso.

Selena: Nicholas, o que você tem? – Perguntou, confusa. Nicholas estava lhe lembrando a época de anos atrás, quando se casaram.

Nicholas: Nada. – Respondeu, indiferente.

Selena suspirou, confusa e incrédula. O que acontecera com ele?

Nicholas: Que cheiro é esse? – Perguntou, se distraindo por um instante, quando sentiu o aroma quente inundar seu pulmão. Seu corpo gritava de fome.

Selena: Ah, eu me esqueci. – Ela também se distraiu – Eu cozinhei pra você. – Anunciou, animada

Nicholas: Você... você o que? – Perguntou, incredulo.

Selena: Cozinhei. – Disse, desamarrando a toalhinha que cobria a terrina.

Nicholas: Desde quando você sabe cozinhar, Selena? – Perguntou, temeroso.

Selena: Agora você me escute aqui, Nicholas. – Rosnou, erguendo-se pra ele – Eu me acabei na beira de um fogão, pra preparar isso. Então você cale essa boca, e come. – Ameaçou, e ele ergueu a sobrancelha.

Selena pegou a louça que trouxera consigo, e serviu. Em seguida ajudou ele a se sentar, e lhe deu o prato. Nicholas observou. O cheiro e a aparência estavam bons. Resolveu provar. Pegou uma colher rasa e pôs na boca. O gosto era ótimo. Ele conseguiu distinguir abóbora e frango, dentre outras coisas. Selena suspirou, aliviada, quando ele pegou a segunda colher.

Selena: Espera. – Disse, de repente – Aquela enfermeira deu banho em você? – Perguntou, e a fúria em sua voz já aparecia.

Nicholas: Foi. – Respondeu, distraído. Estava acabado de fome, e agora, só queria se alimentar – Bom, só um pouco. – Brincou, mas Selena não aceitou.

Selena: Quem pediu? – Perguntou, irritada.

Nicholas: Deram ordens a ela. – Ele ergueu a sobrancelha e sorriu, achando graça dela.

Selena: Eu poderia ter feito isso. Sou sua mulher. – Exclamou, furiosa, e Nicholas a observou. Suas explosões eram constantes, de um tempo pra cá.

Nicholas: Você não estava aqui. – Lembrou, ainda segurando a colher.

Selena: PORQUE VOCÊ ME MANDOU EMBORA! – Rugiu, colérica – Mas não tem problema, problema nenhum. – Rosnou, saindo do quarto.

Henry e Gregg estavam entrando no quarto, quando Selena passou por eles como um furacão.

Nicholas: SELENA! – Chamou de volta – SEGURA ELA! – Mandou, e Gregg correu atrás da morena. Segundos depois ouviram uma breve luta corporal, e Gregg voltou, carregando ela nos ombros, que batia nele.

Selena: ME LARGA, DESGRAÇADO! – Rugiu, se debatendo.

Henry: O que ela tem? – Perguntou, confuso.

Nicholas: Uma enfermeira me deu banho. – Disse, e Henry entendeu.

Selena: CALA A BOCA! – Rugiu, fulminando Nicholas com o olhar.

Demorou até Gregg conseguir conter Selena. Depois a morena entrou em protesto, e saiu do quarto do marido, se negando a ficar na presença dele. Selena voltou meia hora depois. Nicholas já tinha se fartado, comeu metade da terrina que ela trouxe, e agora Gregg tentava tomar o prato da mão de Henry.

Gregg: Quer devolver? – Perguntou, batendo o pé no chão – Você já comeu. – Acusou.

Henry: Mas conheço alguém que ainda não. – Disse, servindo bastante o prato – Diabo, Gregg, vá até a lanchonete e compre um prato. E uma colher também. – Disse, saindo do quarto.

Selena sabia pra quem Henry estava levando aquilo. Gregg, ao constatar que não tinha jeito, comprou uma colher, e saiu com a terrina inteira pra ele. A noite caiu, e Nicholas permaneceu no mais absoluto silêncio. De madrugada, controlando uma vontade louca de chorar, Selena resolveu dar um basta nisso.

Selena: Tem noção de como me deixa angustiada? – Perguntou, rompendo o silêncio, parando nos pés da cama dele. O olhar de Nicholas caiu nela.

Nicholas: Não tem porque. – Disse, grosso.

Selena: Eu juro que se você não estivesse ferido, eu ia te bater. – Disse, com a voz embargada, e a primeira lágrima caiu. Selena a secou rapidamente.

Nicholas: Você... você está chorando? – Perguntou, observando-a, atento.

Selena: Maldição, Nicholas. Eu tive tanto medo de que você morresse, e então você ficou bem, e eu achava que estava tudo ok. Mas ai você fica assim do nada, e não me diz o que é. – Outra lágrima caiu, repetidamente secada – Me toma por idiota?

Nicholas: Não chore por minha causa, Selly. – Pediu, e parecia atormentado.


Selena: Então me diga o que ouve! – Insistiu – Eu sai daqui, e você estava bem. Agora está assim. O que aconteceu, Nicholas?

Nicholas: Estar vivo. – Ele comentou, amargo – Selena, eu estou vivo, mas você não pensou no resto. E se eu não puder mais andar? E se... se eu não for mais homem pra você? – Perguntou, por fim admitindo o que era, e Selena podia ver a agonia nos olhos dele.

Selena: E-era isso? – Perguntou, caindo no choro.

Nicholas: Eu quis levantar sozinho pra ir pro banheiro. Queria tomar meu banho sozinho, não sou criança. – Ele suspirou – Mas a enfermeira não me deixou nem tentar me levantar. – Selena riu, e secou o rosto. Nicholas era tão idiota!

Selena: E era por isso que você tava assim? – Perguntou, sentindo o alivio inundar seu corpo.

Nicholas: Você acha pouco? E se eu ficar entrevado na cama, pra sempre? Precisando de alguém pra tudo? Se eu não for bom mais em nada, Selena? – Perguntou, e rosnou pra si mesmo.

Nicholas viu Selena rir, e em seguida subir na cama. Ela engatinhou por cima dele, o encarando. O corpo dele todo se contraiu com isso. Tinha sede de toca-la, de ama-la, como fazia todos os dias, antes do acontecido. Queria poder joga-la naquela cama, rasgar-lhe a roupa e lhe fazer mulher. Ela parou por cima dele, sem deixar seu peso toca-lo, e começou a beija-lo.

Nicholas: Selly. – Interrompido por um beijo – O que...? – Outro beijo.

Selena: Você pode ficar paraplégico. – Ela o beijou de novo – Impotente, - Ele fez uma careta com a menção disso, mas ela o calou com outro beijo – Cego, - Beijo – Surdo, - Beijo – Mudo, - Ela o beijou de novo, e ele riu – E ainda assim vai ser homem pra mim, seu grande idiota. – Rosnou, carinhosamente

Nicholas observou Selena por instantes. Seu coração palpitava pelo olhar dela. Ele passou a mão no rosto dela, tirando-lhe o cabelo liso da face. Nicholas puxou ela pela nuca e a beijou agressivamente, usando-se do que podia usar. Que diabo, ele conseguia dominar, oprimir ele até quando estava doente. Selena se deitou na cama, do lado contrário ao ferimento dele, e ele puxou metade do corpo dela pra cima de si, até onde podia. A língua dele assaltava a boca dela apaixonadamente, como se aquilo fosse o ar que ele respirava. Os lábios de Selena começavam a ganhar um tom de vermelho, e ela ofegava contra ele. Nicholas ouvia a respiração descompassada dela, e isso estava pondo-o a loucura. De repente, ele teve ciência de que a porta estava fechada. Mesmo sabendo que não podia, a mão dele subiu pelo corpete da cintura dela até o seio, rigidamente coberto pelo vestido, mas ela gemeu entre o beijo ao senti-lo. Nicholas sorriu ao ouvir o gemido dela, e ainda de olhos fechados, ainda acariciando-a, desceu os beijos molhados pra seu pescoço, deixando-a respirar. Selena arqueou, de olhos fechados e com os lábios entreabertos, ao sentir a língua dele acariciar-lhe a pele. Ela se agarrou a nuca do marido com uma mão, deixando-o beija-la, e com a outra encontrou a pele da cintura dele, por baixo da camisa, subindo até suas costas, sentindo sua pele. Amava estar nos braços dele, mas que qualquer outra coisa no mundo.

Selena: Ah, de um modo ou de outro, – Ela brincou, sussurrando no ouvido dele – Eu troco meu nome se um dia você me negar fogo. – Disse ao sentir a excitação dele, que começava a ser aparente contra sua perna. Nicholas riu, rouco, contra a pele dela.

Entretanto, ambos os dois sabiam que o ato não podia ser consumado. A qualquer momento alguém podia entrar ali. Selena não ia arriscar machucar a barriga dele, não agora que estava indo tudo bem. Por mais doloroso que fosse, deviam esperar. Nicholas percebeu que ela o freava, e gemeu de frustração, mas entendia o que ela tentava lhe dizer. A muito custo, os dois se acalmaram. Ela ficou com a cabeça pousada no ombro dele, com o rosto colado ao do mesmo.

Selena: Amor? – Chamou, depois de minutos em silêncio.

Nicholas: Hum? – Perguntou, novamente doce, beijando-lhe a testa e acariciando lhe o braço com a ponta dos dedos.

Selena: Você...você sabe que Samatha morreu? – Perguntou, receosa.

Nicholas: Não tinha certeza, mas tinha alguma noção. – Disse, sem dar atenção, olhando a pele do braço dela – Você pensou que era por isso que eu estava daquele jeito? – Perguntou, abaixando o rosto pra olha-la.

Selena: Eu não sabia o que pensar. – Admitiu, envergonhada, abaixando a cabeça.

Nicholas: Ela teve o fim que mereceu. Eu não me importo, ma petit. Agora, eu tenho um segredo. – Disse, falsamente sério. Selena ergueu os olhos, confusa. Ela viu ele chamar com o dedo, e aproximou o ouvido da boca dele, ouvindo-o murmurar – Eu amo você. – Disse, e seu hálito fez cócegas no ouvido dela, que sorriu.

Selena: Sério? – Perguntou, fazendo-se de surpresa – Ah, eu tinha noção, mas é bom saber. – Disse, manhosa, e ele sorriu, selando os lábios com os dela.


Selena adormeceu abraçada ao marido. Ele viu a relutância dela em adormecer, mas por fim foi vencida. Não dormia direito há dias, e pelo que Nicholas sabia, grávidas tinham mais sono. Grávidas. Ele sorriu, olhando a esposa que dormia. Em seguida tocou-lhe a barriga, que não crescera nenhum centímetro. Uma segunda Rosalie. Ou um menino, quem sabe? Era tão bom, que chegava a ser surreal.



 O dia amanheceu, e no outro quarto daquele hospital, Maite recebeu alta.

Maite: Henry, por favor. – Insistiu, contrariada – Eu posso me cuidar sozinha. – Alegou, enquanto Henry fechava a conta do hospital.

Henry: Ainda está fraca. Não vou deixar que suma por ai. – Disse, assinando um papel.

Maite: Eu dou um jeito. Você já fez demais por mim. – Disse, tocando, sem jeito, no vestido que ele lhe dera, que agora ela vestia.

Henry: Não é nem metade do que pretendo fazer. – Comentou, distraído – Tome. – Entregou a prancheta a enfermeira, junto com um maço de dinheiro. A enfermeira conferiu e saiu – Está pronta? – Perguntou, olhando-a.

Maite: Não vou com você. – Afirmou, relutante.

Henry: Pra onde você vai? Pra rua? Vai sumir de novo? – Ele suspirou – Entenda, Maite. Do meu lado vai estar protegida. Mato alguém antes que te façam algo. Não seja teimosa, por favor?

Maite: Mas... – Interrompida.

Henry: Sem mais. Vai ficar no hotel, vai se cuidar, vai ficar bem. – Ela mencionou falar – E eu não quero ouvir mais nada. Me deixe cuidar de você. – Pediu, estendendo-lhe a mão.

Maite suspirou, vencida, e pegou na mão dele, que sorriu. Henry levou Maite ao melhor hotel dali, deixando-a numa acomodação luxuosa, confortável, e com uma ordem expressa para que recebesse tudo o que pedisse.

À tarde entregaram-lhe mais vestidos, mais roupas, e Maite rosnou. Não gostava dessa situação, mesmo fazendo-lhe tão bem.



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Creditos: Samilla Dias

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