sexta-feira, 24 de outubro de 2014

XLII - Amor Obscuro

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– Quem mandou as flores, Selena? - A voz de Nicholas me tira do meu transe. Olho para ele, respiro lentamente e tento agir normalmente.
– Ninguém importante. - Dou de ombros e coloco as flores com o cartão em cima da mesinha de centro.
Ele me olha com certo ceticismo e logo dou um jeito de afastá-lo de suas desconfianças. Caminho até ele e o beijo lentamente nos lábios. Ele permanece estático, fazendo o nervosismo dentro de mim crescer com mais frequência, mas logo depois abre mais a boca para aceitar meu beijo.
– Acho que meus pais vão demorar na rua. - Digo assim que nossas bocas se separam um pouco. – E eu acho isso até bom, porque .. - Paro para medir minhas palavras e sorrio ao ver que ele espera atentamente minhas palavras.
– Porque ..
– Porque preciso te avisar que minha mãe e a cozinha não são muito amigas, sabe.. E se você pretende comer algo bem gostoso, é melhor deixar para outra hora. - Falo em tom conspiratório e sorrimos uma para o outro.
– O que você quer fazer ?
– Qualquer coisa. - Dou de ombros e ele me olha por uma fração de segundos.
– Bem... - Para e solta um suspiro. – Eu pensei em sairmos. Esperar seus pais chegarem e sairmos os quatros. Almoçaremos e depois passearemos pela cidade, que tal ?
– Hum.... eu prefiro ficar em casa. - Sigo para o sofá, me sentando sobre meus calcanhares e ele logo senta ao meu lado. Nicholas abre a boca para falar algo, mas para ao ouvir o interfone tocar.
– Merda! Quem será dessa vez ? - Levanto-me para atendê-lo. – Sim ?
– Sell, sou eu seu pai. É que a sua mãe esqueceu te pedir a chave antes de sair. - Meu pai diz do outro lado da linha. Sorrio com a voz de minha mãe resmungando ao seu lado.
– Tudo bem, vou liberar a entrada. - Aperto o botão no aparelho e coloco o telefone na base.
Assim que viro para Nicholas, franzo a testa em confusão ao encontrá-lo com o semblante irritado, olhando em minha direção. O que houve agora? Percorro meus olhos por ele, procurando algum indício de sua mudança de humor e gelo ao ver o cartão das flores em sua mão. Oh, não!
– Porque você insiste em mentir para mim ? - Fala com seu tom de voz mais frio possível.
– Porque eu não quero brigar mais. - Digo com sinceridade.
– Não quer ? E continua a aceitar esse cara na sua vida! - Berra.
– Nicholas ...
– Merda, Selena! Será que é difícil para você fazer algo por mim ? - Me interrompe bruscamente.
Quando abro a boca para responder, a porta se abre, revelando minha mãe e meu pai, ambos sorridentes.
– Ah, vocês estão aí. - Minha mãe se aproxima, com seu costumeiro sorriso nos lábios. – Ricardo, coloque as coisas na cozinha, que já irei fazer o almoço. - Ordena ao meu pobre pai, que se encontra cheio de sacolas. Espero até que ele se sente na bancada, um pouco distante de nós e viro para Nicholas e minha mãe.
– Com licença. - Nicholas deixa o cartão em cima da mesinha e sai em disparado para meu quarto.
– O que houve ? - Minha mãe pergunta levemente intrigada.
– Nada. - Dou de ombros e ela me lança seu olhar inquisidor.
Sabendo como as coisas vão terminar, pois já conheço esse olhar parecido com o que Demi me lança ás vezes, resolvo ser sincera com ela.
– Ele está com raiva por causa das flores. - Falo baixo, para que meu pai não escute.
Ela estreita os olhos e começa a inspecionar a sala, parando seus olhos no buquê.
– Oh, sim... - Ela para de falar e parece refletir sobre algo bom, pois abre um sorriso nostálgico. Instantes depois seu sorriso murcha, dando lugar para um leve tristeza e se volta para mim. – De quem são ?
– Um amigo. - Dou de ombros.
– Um amigo .... é por isso que Nicholas está com ciúmes. - Diz sorridente.
– Também.
– Como assim ''também'' ?
Reviro meus olhos e bufo em exaustão. Essa merda toda sobre Linc já está começando a me cansar. Pelo canto de olho, vejo que meu pai está perdido lendo um jornal qualquer. Esfrego meu rosto com as duas mãos e começo a despejar tudo em cima dela.
– É que Nicholas acha que esse cara vai me fazer mal para se vingar dele. Eles não se dão muito bem, na verdade Nicholas o odeia e tem essa paranoia. Mas eu não sei sabe ... não acho que Lincoln irá me fazer...
– QUEM ? - O grito que mamãe dá me faz calar.
Estranho ao ver seus olhos arregalados. Está completamente lívida, sua boca em um formado de ''O'' perfeito. Olho para a bancada e vejo que a atenção de Ricardo agora está voltada para nós.
– Mãe, está tudo bem ? - Pergunto preocupada.
– Sim.. - Ofega. – Sim, está tudo bem. É que.. - Ela esfrega o rosto, se recompondo e sorri para me convencer. – É que você começou a falar sem parar e estava me confundindo um pouco. - Olho para Ricardo e ele acena de cabeça para mim, voltando sua atenção para o jornal em seguida. – Então, continue.. quem é mesmo o dono das flores ? - Sua voz sai baixa o suficiente para que só eu escute. Seu tom está completamente despreocupado, mas seus olhos estão com um certo nervosismo.
– Lincoln Timber. - Seus olhos aumentam um pouco, mas vejo que se segura para não transparecer nada. Espero para que diga algo, mas nada sai de sua boca. – Então, como eu estava falando eu..
– Selena, se afaste de homem. - Paro ao ver suas sobrancelhas reunidas e seu semblante completamente sério.
– O-o quê ? - Pergunto atônita. Como assim? Porque dessa reação ?
– Se afaste dele. Não vou dizer outra vez. - Diz severamente. Minha mãe, raramente fala assim comigo. Aliás, lembro de uma vez só, quando nós havíamos brigado.
– Por que está falando assim comigo ?
– Porque estou falando sério. - Olho desconfiada. – Porque tal vez... tal vez esse homem seja perigoso. - Diz nervosa. – E se Nicholas não aceita essa sua relação com ele, deveria respeitá-lo. E se ele tiver razão e esse tal de Lincoln só queira se vingar dele e esteja te usando para isso ? - Franzo meus olhos, intrigada com o que ela diz.
– Estranho... você falou pra mim se afastar dele como se...
– Como o quê? - Me interrompe bruscamente.
– Nada. - Digo ao reparar a atenção de meu pai novamente em nós duas. Ela me olha em silêncio e sei que não acreditou não ser nada. Minha mãe sempre foi muito psicótica com o meu ''nada''. Ela sempre soube que meu ''nada'' significa ''muita coisa''.
– Ok.. - Diz com cautela e coloca um sorriso nos lábios em seguida. – Então vou fazer o almoço.
– Vá falar com Nicholas. - Aviso e sigo para o quarto.
Quando abro a porta, vejo que ele está parado na janela, com seu olhar perdido no horizonte. Me aproximo dele lentamente, esperando alguma reação, mas não obtenho nenhuma. Abraço-o por trás, descansando o queixo em suas costas e suspiro.
– Eu vou me afastar dele. - Falo calmamente e Nicholas permanece do mesmo jeito. Espero por sua resposta mais um pouco, mas nada.. ele continua do mesmo jeito. – Nicholas, não me ignore... Baby, eu não quero que fiquemos brigados por besteiras. - Paro de falar quando ele se vira, me fazendo se afastar um pouco.
– Besteiras ? Você chama as flores e a invasão do Linc em sua vida de besteiras?
– Não. Eu chamo de besteira a gente brigar a cada minuto que o nome Lincoln aparece, sendo que ele nem é importante em minha vida. Se eu gostei da amizade dele ? Sim. Mas se for para ficar brigando a toda hora com você por isso, eu prefiro me afastar dele. - Me aproximo dele e levo as mãos em seu rosto, fixando nossos olhares. – Essa é a ultima vez que vou falar isso e espero que o assunto Linc morra aqui, ok ? - Ele assente de cabeça. – Você é importante na minha vida. O Linc não. Coloca isso na sua cabeça! Agora vamos, antes que mamãe venha aqui e nos pegue pelas orelhas. - Sorrio para acabar com a tensão no recinto. Ele me olha duvidoso, com um pequeno sorrisinho. – Ela é bem capaz disso, não duvide. - Sorrio e assim saímos do quarto.

{...}

Depois de ver Mandy preparar o almoço sozinha e estranhamente distraída, já que ela recusou qualquer ajuda, estamos todos sentados na bancada, pondo nossa comida no prato. Olho para cara de meu pai e sorrio com seu semblante aterrorizado. Olho para Nicholas, quando ele levanta o garfo e leva até a boca.
– Então ? O que achou ? - Minha mãe pergunta do outro lado da bancada, esperançosa.
Todos os olhares se voltam para Nicholas, que está levemente sem graça, engolindo os últimos restos de seu garfo. Ele olha para mim em busca de alguma salvação, mas só o que consigo é conter uma enorme risada. Então ele olha para Ricardo, que está com um minúsculo sorriso nos lábios. Nicholas, então, volta-se para minha mãe e pigarreia.
– Está surpreendente! Nunca comi algo assim antes. E olha que são poucos os que me surpreende, senhora Gomez.
– Ah, menino! Me chame só de Mandy. - Diz minha mãe, eufórica com a resposta de Nicholas.
Ele realmente sabe se sair bem. Eu jamais conseguiria isso. Nicholas já ganhou mamãe com sua maneira de responder. Já sei que de agora em diante, ela ficará sempre do lado dele. Se bem que ele não mentiu hora nenhuma. A comida está realmente surpreendente.. para os que não a conhece, como meu pai e eu. O frango está um pouco duro e sem gosto, o purê está meio estranho assim como a salada, e o arroz nem se fala. Mamãe nunca foi de cozinhar bem.
– Selly!, Ricardo,  Acompanhem Nicholas na comida. - Mamãe ordena.

Começo a comer, mesmo a contragosto, para não deixá-la triste. Papai e Nicholas começa a conversar sobre coisas banais. Pelo canto de olho vejo que minha mãe já não sorri como antes. Está absorta em seu pensamentos e com o olhar preso em mim. Depois de nossa conversa, ela simplesmente ficou estranha. Preciso saber o porque ela teve aquela reação. Por mais que eu queira ignorar, senti um sentimento de mistério no ar. Preciso descobrir o que é e é o que irei fazer...





Comentários... :)

Creditos Angel 

Um comentário:

  1. O Lincon é pai da Selly né??
    Quando que ela vai descobrir?
    Posta Logo plssss
    Beijos

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